O que pode ser dito, e o que não pode ser dito, quanto o assunto é estratégia? Como dois “eternos inimigos” de repente, se mostram dois “antigos e frequentes amigos e parceiros profissionais”, contrariando tudo o que se falava e pensava deste relacionamento?

Em artigo anterior explorei a ideia de que “estratégia é saber dizer não”. Neste artigo quero explorar o fato de que, o que é estratégico, não deve ser falado em hora inoportuna.
Recentemente apresentamos, em evento do Leituras Conectivas, o recém lançado livro sobre a “Steve Jobs – Biografia”. Tivemos oportunidade de mencionar uma famosa entrevista conjunta de Bill Gates e Steve Jobs (2007), em que a entrevistadora coloca a seguinte questão: “o que há de errado no que as pessoas falam do relacionamento de vocês dois?”
É (ou era) sabido que Gates e Jobs foram, durante, muito tempo, inimigos ferrenhos no mundo da computação e da informática. Gates trabalhando principalmente com softwares, aplicativos. Jobs trabalhando principalmente com hardware, produtos.
A resposta dada por Steve Jobs foi: “mantivemos nosso relacionamento em segredo por cerca de 10 anos!”
A cena chamou atenção, pela descontração e humor dos entrevistados, ecoando com aplausos e manifestações concordância por parte de plateia.
Quero aproveitar este episódio para chamar atenção sobre um aspecto importante na comunicação com o mercado:
O que é verdadeiramente estratégico, não deve ser dito!
A aparente “briga eterna” dos dois poderia ter sido tratada de modo diferente. Se os dois tivessem se comunicado de outra forma, não deixando que este “clima de desarmonia” crescesse, poderiam ter sido tratado com parceiros, em vez de inimigos ferrenhos.
Mas, será que eles queriam isto?
Penso que este clima pode até ter sido alimentado pelos dois. Senão vejamos, por exemplo, algumas situações em que Gates e Jobs atuaram juntos:
- O desenvolvimento paralelo e conjunto da Linguagem BASIC (com ponto flutuante), para uso nos computadores da Apple, por volta de 1975 a 1977;
- A participação de Bill Gates no projeto do Macintosh, desenvolvendo aplicativos para viabilizar o computador da Apple, considerado um dos produtos mais inovadores da informática, entre 1982 e 1984;
- A participação de Bill Gates (Microsoft) no ressurgimento, ou melhor, não falência, da Apple Computers, quando da volta de Steve Jobs à Apple, em 1997. Bill Gates assumiu dois compromissos: continuar desenvolvendo aplicativos para a Apple, em especial o Office for Mac, e o aporte financeiro, tornando-se acionista da Apple;
Não quero dizer que Jobs e Gates sejam os maiores amigos e parceiros do mundo da informática. Mas, seguramente, não são tão inimigos como pareciam ser.
E, é claro, não pretenderam assumir uma relação muito estreita, pois a divergência de filosofia e condução de suas respectivas empresas e trajetórias alimentava uma disputa, de certo modo, interessante para acirrar os ânimos do mercado.
Enfim,
O que é verdadeiramente estratégico, não deve ser dito – pelo menos em hora inadequada;
Assim, encerro o artigo lembrando dois ditados: às vezes “as aparências enganam”!
- As aparências enganem, e
- O falar é de prata, o calar é de ouro
Muito bom esse artigo! Conclusão: não fale nem para a pessoa que você confia, pois ela também tem uma pessoa de confiança, que essa também tem uma de confiança e ai já viu. Rapidinho, muitas pessoas estão sabendo do assunto.
Pois é, Julio. Como diz o ditado, “boca fechada não entra mosquito”. Obrigado pelo comentário!