Afinal, para que vivemos? Qual o sentido de nossa vida, seja pessoal, seja profissional? Vivemos para nos alimentar e usufruir do prazer de bem viver? Ou temos um papel mais importante que apenas viver? Vivemos para nós ou para os outros?

A sentença completa diz que “quem não vive para servir não serve para viver”.
Já procurei a autoria, mas não encontrei uma fonte segura. Alguns atribuem-na a Gandhi, outros afirmam que foi dita por Jesus Cristo. É utilizada em contextos religiosos, ou de organizações voluntárias, militares, ou entidades beneficentes. Mais do que a autoria ou o contexto, prefiro pensar que a sentença tem muito significado, e, muita serventia.
Hoje, entretanto, a frase está presente em minha mente em virtude da partida de uma pessoa muito querida, um Tio que, sem dúvida, merece que lhe atribuamos o título de alguém que viveu para servir.
Já jovem, escolheu o caminho da religião, tornando-se Padre, pois tinha em mente a missão do sacerdócio como uma forma de fazer o bem ao próximo.
Lembro, ainda criança, quando ele chegava à nossa residência, e nos levava, a mim e a meus irmãos, para andar de lambretinha – uma motocicleta que trouxera de seu período em Roma, quando lá morou um tempo de sua vida. Eu me sentia a criança mais feliz do mundo!
Mais adiante, lembro, uma de suas provocações, foi ter lutado arduamente para que a missa fosse conduzida em nossa língua. Afinal, uma missa em “latim” servia a quem?
Em sua residência, por um período que lá convivi, as longas reuniões para leitura, discussões e ensinamentos que varavam a madrugada, me deixando, por vezes, com sono no dia seguinte!
Por toda sua vida, o desapego ao dinheiro, motivo de crítica de alguns, configurou-se como uma opção pela vida simples, humilde, mas carregada de intenções de promover a consciência, o conhecimento, o crescimento das pessoas.
A imagem, na parte superior deste artigo, retrata o hábito de andar sempre, com um livro, a Bíblia, ou algum outro texto, pois, sempre que, com alguém se reunia, aproveitava para ler, discutir, explicar, transmitir uma palavra de reflexão e provocação.
Algumas vezes a vontade de que aprendêssemos e fizéssemos algo era tão grande, que a energia da fala e das palavras superava a calma e tranquilidade usual.
Mas seu empenho era de que compreendêssemos e seguíssemos princípios do bem.
Assim, aproveito o dia de hoje, para render minhas homenagens, gratidão, reconhecimento, e acima de tudo, admiração a Tio Tonho, Tio Padre, Padre Nóbrega, Professor Antônio, dedicando-lhe, nesta data, a sentença:
- “Quem não vive para servir não serve para viver”.
Ressaltando que, se existem pessoas merecedores do título de servidor, Antônio Albuquerque Nóbrega é uma delas.
E, por fim, faço uso de um poema de Bertolt Brecht:
- Há homens que lutam um dia: e são bons…
- Há outros que lutam um ano; e são melhores…
- Há aqueles que lutam muitos anos; e são muito bons…
- Porém há os que lutam toda uma vida: estes são imprescindíveis!
Bertolt Brecht
Aos familiares, amigos, seguidores e alunos, tenhamos, todos, a convicção de que hoje, perdemos o convívio de alguém especial!
Compartilho suas palavras caro primo,
Leonardo Pedrosa
Kleber, sobre Tio Padre, como o chamávamos, ele fez história na vida religiosa aqui em Campina Grande, a partir de várias formas de agir e pensar, formas estas somente absorvidas, diluidas por muitas pessoas ao longo dos anos, com o amadurecimento do tempo. O Pe.Lambretinha, como era conhecido popularmente, ia a fundo nas suas questões, procurando o motivo de ser das coisas e tentando modificar as ações e forma de viver das pessoas sempre para uma forma digna e que elevava o ser humano. Não devemos esquecer que ele foi um dos precursores de todo este movimento dos festejos juninos aqui em Campina Grande, onde ia também até distritos promover quadrilhas e danças no São João e as brincadeiras para a juventude promovidas na Igreja do Besouro. Como me disse Felix Araujo Filho, um dos integrantes dos festejos de São João promovidos pelo Pe. Nobrega, a história de Campina Grande não pode ser escrita sem o seu registro.
obrigada Kleber !
você conhecia seu tio como ninguem….Fiquei muito emocionada com sua homenagem. Ele amava vocês todos . Como Jesus prepara nossos caminhos, não é verdade? Parece que aquela viagem foi mesmo apostólica como ele chamou .Conseguiu encontrar cada sobrinho e despedir-se de seu querido irmão e irmã.
Pena que não concluiu, programara para o segundo semestre nossa ida a Brasilia despedir-se das meninas como ele se referia a Memena e Ditinha.
Hoje ele está em paz ,ao lado de Nosso Pai, como homem bom e justo que sempre foi.
Tomara tenhamos mais pessoas como ele em nosso mundo…..
“O que para mim é confirmador de que realizei imperfeitamente meu ideal profético é um conjunto constante de indícios. Primeiro, a recorrência com que sonho, da maneira as mais variadas, com minha vida de padre, sem uma situação fixa, mas sempre acompanhando minha evolução mental e humana. Segundo, não tenho nenhum laivo de arrependimento de ter sido padre, de revolta pelo condicionamento materno para meu encaminhamento ao sacerdócio, de perseguição de colegas, autoridades ou pessoas que não aceitassem meu modo de ser e pensar, revolta pelos meus anos perdidos, ou tentação de achar Deus fora da Igreja. Terceiro, alegro-me com o progresso humano, a ciência, as pequenas e poucas mudanças que vejo aqui e ali na Igreja, o crescimento da liberdade da fé, a busca de Deus fora da Igreja, ao passo que me entristeço com o conservadorismo, a negociata das devoções, as mancadas do sucessor de D. Helder e de outros mais, o tridentinismo da Diocese de S. Carlos. Quarto, poderia citar a felicidade humana e o crescimento de nossa família, aberta para todos, sem crises humanas, sem desregramentos, sem fanatismo religioso ou partidário. Quinto, e, para mim o mais decisivo, minha vontade de crescer, de rever a fundo os valores humanos de minha vida e dos meus semelhantes, de viver o evangelho sem fronteiras nem amesquinhamento, não como um anacoreta, monje, padre casado, membro de associação religiosa ou confraria qualquer, arreligiosa ou anti-religiosa, mas o Antônio que fui e que sou, livre, porém, das limitações que tive e que tenho, para poder crescer fazendo crescer. Sexto e mais ilustrativo, por permitir comparação e aproximação das idéias, uma fixação mais recente e diferente, que me ocorre mais frequentemente nos sonhos: as metas inconclusas de meu passado de professor… em cujo bojo, um espinho -o registro da matéria no diário de classe- recorrentemente enfia sua ponta dolorida. Nesse passado revivido ou sonhado de professor, como no de padre, os mecanismos depreciadores atuam semelhantemente, revelando, talvez, uma superposição ou substituição de ideais, vividos inconscientemente, com a mesma intensidade ou paixão.”
Trecho de carta por tio Antônio Nóbrega, tio Tonho, Tio Padre, em fevereiro de 2012.
Obrigado, Ricardo, por retratar o trecho da carta. Enriquece, nas próprias palavras do personagem, os poucos comentários que fiz.