Você já percebeu que as escolas parecem privilegiar o mau aluno, dando-lhes mais atenção, dedicando-lhes mais esforço e tempo? De maneira análoga, parece que damos mais atenção ao funcionário lento e atrasado, em vez de ressaltar o bom desempenho dos melhores. Faz sentido? Pense bem: você passa mais tempo, e dedica mais atenção, aos seus melhores profissionais, ou àqueles de desempenho inferior?

Certa vez participei de uma discussão sobre avaliação de desempenho. Falávamos sobre como dividir nosso tempo entre os profissionais que tem os melhores e os piores desempenhos. Um dos presentes deu o seguinte depoimento:
Depoimento
Recentemente fui ao colégio, após o período de avaliações trimestrais, conversar com os professores, sobre meu filho. Ele havia tido um bom desempenho, com notas entre 8,5 e 10 no conjunto das disciplinas cursadas.
Qual não foi minha surpresa e “decepção” com os professores – postura frequente – em dizer que o aluno tinha bom comportamento, bom desempenho e um sentimento de “não tenho muito a falar de seu filho”. Um dos professores chegou a dizer algo parecido com “nada tenho a dizer do estudante”. Um outro perguntou “o que o senhor veio fazer aqui, seu filho vai tão bem”?
Esta não foi a primeira vez que observei tal comportamento por parte de professores. Cheguei a lembrar de um professor do ano anterior que, diante do bom desempenho do aluno, chegou a afirmar “olha, o seu filho tirou excelentes notas, tem bom comportamento, e isso é tudo, nada há mais a dizer”, dando a entender a ela que tinha coisas mais importantes com que se preocupar.
Como pais, ficamos lisonjeados em receber elogio pela conduta de nossos filhos. PORÉM, fico a refletir: parece que colégios e professores tendem a se preocupar mais com aqueles que têm mau comportamento e mau desempenho. É como se fossemos persona non grata na reunião individual de pais e mestres; algo do tipo: o que vocês estão fazendo aqui?
Como pais clientes, temos o direito de ouvir os professores sobre como anda o nosso filho, seus pontos fortes, e não apenas as reclamações sobre o desempenho ruim do estudante. Como pessoas que procuram educar para que os filhos sejam bons em termos pessoais e profissionais, é importante saber onde o bom pode ser melhorado.
Fiquei pensando, como profissional de gestão, que passa o tempo a falar, escrever e instigar pessoas, profissionais e organizações, a agirem melhor.
Como agimos com nossa equipe: privilegiamos os bons ou os ruins?
Logicamente a resposta, sobretudo a resposta politicamente correta, tenderá a afirmar que privilegiamos os bons, ou mesmo equilibramos o tempo conforme a necessidade. Então faço-lhe algumas perguntas:
- Costumamos passar mais tempo com os profissionais que alcançam suas metas, ou os deixamos irem para casa e nos dedicamos ao restante da equipe, a fim de que alcançar suas metas antes do fim do mês?
- Costumamos nos preocupar com nossos maus profissionais, com a mesma ênfase com que nos preocupamos com os bons?
- Os filhos que costumam ter mais atenção dos pais são aqueles que dão conta do recado, ajudando inclusive na criação do mais novos? Ou os pais costumam dedicar-se mais aos filhos brincalhões, que andam mau na escola, ou mesmo tendo algum comportamento incompatível com a educação recebida no lar? Quando isto acontece, até usam como justificativa que precisam ajudar mais aqueles mais necessitados!
- Costumamos passar mais tempo falando, reclamando e comentando, dos funcionários que agem com responsabilidade e correção, ou daqueles que se comportam com insegurança e lentidão?
- Costumamos, com mais frequência, buscar apoio de amigos ou profissionais, para ajudar o profissional que dá resultado ou aquele que se sente desqualificado?
Enfim. parece haver uma tendência a adotarmos a “síndrome do coitadinho”, dedicando mais tempo, esforço e atenção aos que dão menos resultado. Não deveria ser o contrário?
Se cada hora que dedicamos ao bom profissional, filho ou aluno, eu obtenho um resultado superior, por que agimos de modo inverso?
Estamos vivendo a era da competitividade, onde se destacam aqueles que obtém melhores resultados. Então, por que privilegiar o ruim?
Por dó? Agindo assim, onde vamos chegar?
Não estou defendendo abandonar os fracos e mais necessitados!
Longe de mim propor um absurdo destes. Estou defendendo sim, que balanceemos nossos recursos, tempo, atenção, de forma menos desequilibrada. Não podemos dedicar tudo para quem mais precisa, e nada para quem mais merece!
Alguns dirão que é um ato de amor.
Por quem? Pergunto. O bom também não merece amor?
Quem sabe se você dedicar um pouquinho mais ao bom filho, não acabará tendo mais recurso e tempo, mais adiante, para cuidar do outro, que tanto necessita?
Pense bem em como você está repartindo seu tempo, esforço e atenção, entre e com seus filhos, subordinados, alunos, orientandos de pós graduação, e outros que precisam tanto de você!
Pense nisto, reflita, e compartilhe com todos, bons momentos no Natal que se aproxima e no ano que se inicia!
Acredito que o foco está na exceção: filho e/ou aluno muito abaixo ou acima do esperado, que “precisa de atenção”; o que atende a expectativa é “normal”.
Penso que a meritocracia seja um processo cultural, que ainda nos falta base.
Perfeito o texto! eu vivo as dias vertentes, sou mãe de uma ótima aluna e quando vou falar com os professores me sinto excluída, chata e exigente. apenas por querer detalhes do rendimento dela. e, sou também professora, mas me divido igualmente, o bom aluno tem que crescer ainda mais, os que tem interesse não tem que ficar tempo ocioso por causa de alguns que não querem nada!!!
Grato, Mary, por seu comentário. Os bons pagam pelo “pecado” dos ruins.