Como agem motoristas de veículos, em seu país, quando se aproximam de um cruzamento de ruas em que o sinal está sem funcionar? Caso não se faça presente um agente de transito para administrar a situação, o trânsito flui, ou costuma emperrar, ficando quase parado? Como isto se dá num país civilizado?

Como agem motoristas numa rotatória de grande movimento?
Pense bem, como costumam proceder motoristas de veículos em seu país, quando se aproximam de uma rotatória onde não existe semáforo regulamentando o movimento dos veículos?
- Opção 1: os motoristas se amontoam na rotatória, quase batendo uns nos outros, com muitas buzinadas, aceleradas e freadas, disputando fervorosamente a vez de avançarem.
- Opção 2: os motoristas se amontoam em torno da rotatória, disputando a oportunidade de seguir adiante, cada um pensando apenas em si e em seu trajeto, mas sem selvageria.
- Opção 3: os motoristas se enfileiram em torno da rotatória, aguardando a vez de seguir adiante, de forma relativamente ordenada e respeitosa.
- Opção 4: os motoristas, de forma organizada, respeitosa e civilizada, aproximam-se da rotatória, cada um em sua vez, cedendo a vez, de forma disciplinada, ao próximo que está à sua direita, não provocando nenhum tipo de tumulto, e o tráfego flui de maneira contínua e ordeira.
A pergunta também poderia ser aplicada a alguma das situações:
- o acesso de veículos na entrada de um shopping center, em um jogo de futebol, ou qualquer outro evento para grande número de pessoas;
- estando numa avenida preferencial, quando o trânsito está lento ou próximo a um semáforo, permitir que um veículo, vindo de uma rua lateral possa entrar à sua frente;
- Deixar a faixa da esquerda para os veículos que trafegam em maior velocidade.
Mas, retomemos a situação da rotatória.
Olhe bem para a figura colocada na parte superior deste artigo. No centro temos uma rotatória que integra quatro ruas: A, B, C e D. Em cada rua, vários veículos se aproximam da rotatória, representados pelos retângulos enumerados.
- Comecemos, por exemplo, pela rua A. Como o veículo A1 está mais próximo da rotatória, ele segue adiante. Normalmente, o carro que vem atrás – A2, seguiria atrás de A1, A3 seguiria atrás, e assim por diante.
- Enquanto isso, os veículos das ruas B, C e D teriam que ficar aguardando.
- Em algum momento, um dos veículos da rua B poder querer passar. E toma a dianteira, se dirigindo à rotatória. Se nenhum veículo das demais ruas tiver a mesma iniciativa, dará tudo certo. Mas, se algum destes quiser passar, poderá haver muita confusão.
- Então todos de cada rua terão que esperar que todos da rua anterior tenham passado, para que chegue a sua vez. Não é difícil imaginar o grau de ansiedade a que chegarão, não é mesmo? Detalhe: qual será a rua anterior? E a seguinte?
Como os motoristas se comportam num país CIVILIZADO?
- Retomemos a rua A. Como o veículo A1 está mais próximo da rotatória, ele segue adiante. Num país civilizado, o carro imediatamente atrás, A2, se aproxima do anel central. Mas não segue. Ele para dando a vez para o primeiro veículo da rua B.
- Isso mesmo! A2 não segue adiante. Ele dá a vez, beneficiando um outro.
- O primeiro veículo da rua B, neste caso, B1, tem a vez de entrar na rotatória e seguir. O veículo imediatamente atrás, B2, toma o lugar ocupado por B1, e para.
- O primeiro veículo da rua seguinte, C1, pode então prosseguir na rotatória. C2 se adianta um pouco, mas não segue. Ele para, dando a vez para o veículo da rua D.
- Neste caso, o fluxo segue, com A2 se movimentando adiante. A3 se adianta, tomando o lugar antes ocupado por A2. E assim por diante, nada um se adianta, para, cede, aguarde, e segue, num movimento ordenado e quase sincronizado.
- Percebe? Cada um tem sua vez, todos aguardam um pouco, mas todos, cada um em sua vez, seguem adiante. E não existe ansiedade, estresse nem confusão.
- É uma típica situação em que a coletividade se sobrepõe à individualidade!
- Tudo isto ocorre de forma ordenada, automática, sem a necessidade de um agente de trânsito comandando os motoristas.
Motorista Servidor!
Ressalte-se, neste caso, o comportamento servidor do Motorista Civilizado.
- A RESPONSABILIDADE de cada um reside do fato de respeitar o direito do outro, acima de suas necessidades individuais.
- A UTILIDADE pode ser percebida na medida em que, ao dar a vez a um outro, o motorista contribui para a compreensão da finalidade da rotatória: organizar o fluxo, sem a necessidade de um semáforo ou um agente público comandando o tráfego;
- Cada motorista tem um gesto de BONDADE ao dar a vez, sendo, assim, BOM com o outro.
- O elemento do Comportamento Servidor mais denotado no episódio possivelmente seja a RENÚNCIA, pois o motorista renuncia ao que poderia ser entendido como “a vez é minha”. Este gesto de renunciar poderia se repetir em outras cenas do trânsito cada vez mais caótico dos grandes centros urbanos.
- A INICIATIVA, neste caso, foi dos agentes públicos, que, em algum momento do passado, criaram esta sistemática e disseminaram este comportamento civilizado
- SIMPLICIDADE é o que não falta numa situação desta, pois cada um é um. E apenas um. Não existem carrões maiores ou melhores que os pequenos, que mereçam ser privilegiados.
- Por fim, o desejo de AJUDAR é evidenciado pelo motorista anterior, uma vez que, ao renunciar cedendo a vez, cada um contribui para mudar o trânsito coletivo. Agindo como aqui descrito, cada um contribui para um trânsito melhor e mais contínuo na cidade como um todo.
Reflexão
Aliás, tudo o que discutimos poder ser transportado para situações como:
- Respeitar o pedestre que esteja atravessando a rua, na faixa de pedestre;
- Dar a vez a um pedestre que esteja desejando atravessar a rua, mesmo que já não esteja na faixa de pedestre. Muitas vezes, quando reduzimos a velocidade para que um pedestre possa atravessar, recebemos buzinadas de quem vem atrás;
- Respeitar um veículo de Auto Escola, perfeitamente sinalizado (faixa amarela de identificação), transitando em velocidade menor que o usual;
- Permitir a ultrapassagem de um veículo que vem atrás de você, em velocidade superior à sua;
- Não estacionar o veículo em áreas reservadas a idosos ou pessoas com dificuldade de locomoção.
Quem sabe possamos, organizadamente, intuitivamente e coletivamente, adotar comportamentos semelhantes, ajudando aos outros e nos ajudando mutuamente, a construir um mundo melhor!
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