Falando de livros: Fora de série (Outliers)

Fora de série

 

O que torna algumas pessoas capazes de alcançar sucesso tão extraordinário, a ponto de serem chamadas de “fora de série”? Com esta questão provocativa, Malcolm Gladwell nos convida à leitura de sua obra, intitulada “Fora de série – Outliers”.

 

Gladwell, um colunista do jornal “The New Yorker”, atuou como repórter sobre negócios e ciências no Washington Post, e publicou dois best sellers: o ponto de desequilíbrio, e Blink: a decisão num piscar de olhos, e é considerado uma espécie de gênio na arte de desvendar os mistérios acadêmicos e “traduzi-los” para linguagem de pessoas comuns.

Gladwell discorda do senso comum de atribuir as causas de sucesso de algumas personalidades somente às habilidades individuais, aliadas a obstinação, persistência e superação. Uma boa dose de aspectos culturais, origem, casualidade e oportunidade recheiam as justificativas para o excelente desempenho de alguns seres humanos ao longo de sua vida pessoal e profissional. Isto é reforçado pela descrição da população da cidade de Rosetto, nos EUA, e sua característica marcante de índices de problemas cardíacos bem abaixo de outras regiões. Além disto, a comunidade não apresentava suicídios, alcoolismo ou vícios de drogas, e a causa da maioria das mortes era velhice – Rosetto era um outlier.  Stewart Wolf, um médico, decidiu investigar as causas deste fenômeno. As hipóteses iniciais de associar os níveis de saúde a fatores genéticos, alimentícios e mesmo atividades físicas foram descartadas, até se encontrar o fator predominante: o local em que viviam – as pessoas se relacionavam de forma harmoniosa. As famílias faziam refeições com a participação de membros de três gerações do mesmo clã. Nas ruas, pessoas subindo e descendo, sentando-se nas varandas para conversar, e uma integração que fazia parecer uma espécie de “paraíso” na terra. Antes deste estudo, não havia costume de associar saúde a comunidade.

O autor chama atenção para a típica autobiografia alusiva à excepcional capacidade de superação dos biografados: o herói nasce em circunstâncias modestas, muitas vezes adversas, e por conta de sua garra e talento, consegue escalar o topo! Mas Gladwell argumenta que este tipo de descrição é incompleta, pois devemos muito do que somos à família e protetores.

Por exemplo, os jogadores de hóquei do Canadá são beneficiados, desde muito cedo, por causa do limite de data para se inscreverem nas ligas. Os nascidos nos primeiros meses do ano conseguem entrar na liga com a idade completa e, com isto, se desenvolvem mais e melhor, alcançando desempenho superiores do que as outras crianças que nasceram no mesmo ano, porém em meses após o primeiro trimestre. Esta vantagem proporcionada aos “mais velhos” acaba interferindo na composição da seleção nacional, anos mais tarde.

Noutro momento a “regra das dez mil horas” parece influenciar grandes sucessos: os Beatles, no início da carreira, foram convidados a tocar em Hamburgo, Alemanha, onde as apresentações duravam até 8 horas. Este “acaso” exigiu de John Lennon, Paul Mc Cartney e George Harrison uma habilidade superior, alem de um repertório vasto – em Liverpool, cidade de origem, as apresentações duravam no máximo, 2 horas. Quando estouraram, por volta de 1964, os Beatles já haviam se apresentado cerca de 1.200 vezes, perfazendo, aproximadamente 9.600 horas de “treino”. Bill Gates, o fundador da Microsoft, foi beneficiado pela oportunidade de acesso a um computador, ainda nos tempos de colégio (8a série) , onde pode praticar programação. Durante 7 meses no ano de 1971, Gates e colegas acumularam 1.575 horas de computador. Ao deixar Harvard, para criar sua empresa, Gates havia acumulado mais que 10.000 horas.

Origem, casualidade e “horas de vôo” são alguns fatores que aliados a circunstâncias históricas, desenvolvimento de novas tecnologias, oportunidades de mercado, ajudam a explicar os sujeitos “fora de série”. O livro é denso em exemplos de cada um destes fatores, assim como a teoria étnica dos acidentes de aviões. Alguns acidentes de avião ocorreram por fatores comportamentais explicados pela origem de pilotos e co-pilotos – enquanto um piloto da Colômbia tende a apenas escutar (e acatar) as instruções dos controladores de vôo de Nova York, um piloto britânico contesta quando percebe a possibilidade de perigo, contribuindo assim, para o sucesso de alguns vôos. Isto pode se repetir em outras circunstâncias da vida de uma pessoa.

O resumo aqui apresentado não expressa a opinião do autor do blog sobre o conteúdo do livro. Pretende ser apenas um resumo do livro, procurando registrar os principais pontos defendidos pelo autor do livro.

Este e outros livros estão sendo apresentados, de forma didática e dinâmica, através do programa Leituras Conectivas – informações através do site www.leiturasconectivas.com.br.

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